Casos de violência e abuso infantil não param de sair nos noticiários, nos abalam e nos revoltam. Mas eles são só a pontinha do iceberg. Não temos nem como saber o tamanho do problema de tanta desinformação. E o pouco que sabemos, já é bastante assustador.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020 apontou que em 2019 aconteceu um estupro a cada 8 minutos. Destes, 57,9% das vítimas tinham no máximo 13 anos! Em média, a cada dia mais de 70 crianças e adolescentes são estuprados no Brasil. A cada hora, 3 crianças sofrem esse tipo de violência. Estes e os demais dados apresentados são referentes apenas a 57,41% da população porque somente 12 estados enviaram informações.
O relatório indica que 81,6% das crianças e adolescentes vítimas de estupros têm até 14 anos. Entre 0 e 19 anos, 15% das vítimas são do sexo masculino e 85% do sexo feminino. No entanto, esse padrão varia de acordo com a faixa etária: entre os 4 e os 10 anos de idade, as vítimas chegam a ser entre 20% e 30% do sexo masculino. Por outro lado, a partir dos 13 anos, as vítimas do sexo feminino representam a imensa maioria, entre 92% e 93%.
O Anuário ressalta o descaso e falta de informação. Além da ausência de dados em mais de 40% do território brasileiro, muitos registros de Boletim de Ocorrência possuem pouquíssimas informações sobre os casos, omitindo dados básicos como a idade. Do total de registros apurados, apenas 54,15% informavam a idade e 30% dos registros entre 0 e 19 anos não possuem informação sobre a cor da vítima. Os registros apontam que 64,6% dos crimes acontecem nas residências, no entanto essa informação está presente em apenas 1% dos boletins de ocorrência! Outra informação fundamental é a relação do agressor com a vítima, que foi notificada em apenas 11,1% dos registros e que nos informam que 39% das vítimas são agredidas pelos padrastos.
Mas tem algumas coisas que sabemos sem precisar de muitos dados. Uma delas é que abusadores e pedófilos não usam crachá, não têm um estereótipo específico e definitivamente não são monstruosos. Podem ser pessoas próximas, pessoas que amamos e que confiamos. Outra é que a cultura do estupro está enraizada na nossa sociedade, e portanto seu combate é lento e precisa acontecer em diversas frentes simultaneamente. No âmbito infantil, precisamos ensinar as crianças desde pequenas a respeitarem seus corpos e seus desejos e também os corpos e desejos alheios. Precisamos ensiná-las a se proteger de abusadores e não se tornarem abusadores no futuro.
E como abordar esse assunto que é tão sensível de forma correta? Pra te ajudar nessa jornada, selecionei alguns perfis do Instagram que abordam a Educação Sexual e a Proteção da Infância. Vamos conferir?
Childhood Brasil (@childhoodbrasil)
Esta é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que faz parte da World Childhood Foundation (Childhood), criada em 1999 pela Rainha Silvia da Suécia. Esta organização atua para garantir a defesa dos direitos de crianças e adolescentes, com foco na prevenção e no enfrentamento da violência sexual. Em seus canais de comunicação você encontra dados e informações relevantes sobre a violência sexual, informações de como fazer denúncias, informações sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, referências de como abordar educação social e assuntos correlacionados com as crianças, entre outros.
Eu Me Protejo (@eumeprotejobrasil)
Eu Me Protejo é um projeto totalmente independente, voluntário, sem patrocínio, fruto do tempo e boa vontade de vários profissionais de diversas áreas, educação, comunicação, psicologia, direito, medicina, ativistas dos direitos humanos e das crianças. O objetivo principal é elaborar um material acessível e gratuito para ajudar a prevenir a violência contra crianças.
A cartilha é gratuita e está disponível no site em diversos formatos: pdf em mais de uma língua, em videolivro e em libras. Além deste material, eles disponibilizam outros conteúdos musicais e teatrais sobre o tema.
Caos.a (@_caos.a)
A Caos.a é um movimento civil com foco em dar visibilidade e encontrar soluções para questões políticas urgentes sobre Direitos Humanos e Direitos da Mulher. O conteúdo explorado vai além da Educação Sexual Infantil e faz conexões importantes com diversos valores da nossa sociedade. Oportunizam conversas com especialistas de diversas áreas e trazem muitas referências sobre trabalhos realizados no Brasil. Elas também criaram um abaixo-assinado para pressionar a Ministra Damares Alves a mudar o posicionamento do Brasil contrário a um projeto de resolução da ONU com propostas para a extinção da discriminação e violência contra meninas e mulheres, que você pode conferir aqui.
Caroline Arcari (@carolinearcari)
Caroline Arcari é mestra em educação sexual e escritora do livro infantil Pipo e Fifi, dentre outros, que é precursor na educação sexual de forma lúdica. Ela também é proprietária da Editora Caqui que tem um catálogo de livros sensíveis que abordam diversas questões sociais. Os livros de educação sexual para crianças e adolescentes foram contados pela contadora de histórias infantis Fafá Conta (você pode conferir no Instagram e YouTube). Essa parceria também rendeu várias conversas sobre Educação Sexual para os cuidadores que foram disponibilizadas no canal do YouTube Fafá Conta Mais.
Vai Ter Educação Sexual (@vaitereducacaosexual)
Este é um perfil recente, um projeto da Sociedade Brasileira de Educação Sexual, mas que já está trazendo conteúdo muito interessante e educativo. Vale a pena acompanhar!
Saiba como e onde denunciar:
Disque 100 – Serviço de proteção de crianças e adolescentes com foco em violência sexual, vinculado ao Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, da SPDCA/SDH.
Basta discar o número 100 (é gratuito e aceita denúncias anônimas). As denúncias também podem ser realizadas através do aplicativo Direitos Humanos Brasil, disponível para iOS e Android. Ou pelo aplicativo Telegram: para utilizar o canal, basta apenas digitar “Direitoshumanosbrasilbot” na busca do aplicativo.
Proteja Brasil – Esta iniciativa do UNICEF permite que sejam feitas denúncias diretamente por um aplicativo disponível para android e IOS, além de localizar os órgãos de proteção nas principais capitais e ainda se informar sobre as diferentes violações. As denúncias são encaminhadas diretamente para o Disque 100.
Safer Net – ONG que criou um canal de denúncias de crimes na web, e pornografia infantil é o tema mais denunciado.
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