Os dispositivos móveis (celulares, notebooks e tablets) estão cada vez mais presentes no dia-a-dia e intrínsecos nos nossos afazeres. É natural que a criança tenha interesse por ele e queira também interagir com essa tela mágica.
O tempo de exposição à telas tem sido um assunto amplamente discutido quando se fala em cuidados infantis. É importante avaliar essa questão por diversas perspectivas, mas hoje vamos falar sobre a visão.
Você deve lembrar de, na infância, te dizerem pra sentar longe da televisão ou que era a hora de desligar porque você poderia ter que usar óculos de tanto assistir TV. Então, não é de hoje que os cientistas buscam responder a pergunta:
Será que as telas podem causar miopia?
É muito fácil pensar que sim, já que de 20 anos pra cá, houve um grande aumento (quatro vezes mais) na prevalência de pessoas míopes, e no Brasil 40% da população adulta é míope.
A miopia é o distúrbio de visão que sofre mais influência do meio, mas os estudos indicam que as telas não tem relação direta com isso. Por outro lado, as telas causam diretamente outros problemas de visão, como o ressecamento, geram desconforto visual e maior fadiga ou sonolência.
E qual seria a relação indireta entre miopia e telas?
Primeiro, precisamos entender melhor o que é a miopia. Ela é uma condição do olho que não permite com que a pessoa enxergue nitidamente objetos distantes.
Isso pode ocorrer de duas formas: ou a curvatura da córnea foi afetada (menos comum) ou o olho é mais alongado do que o ideal (mais comum). Pro olho convergir corretamente a imagem, ele deve ser perfeitamente redondo, se ele for mais ovalado, ele vai projetar a imagem antes da retina.
Curiosamente, desde que nascemos, o nosso olho praticamente não muda de tamanho, então ele é levemente grande pra nossa cavidade ocular, o que o deixa um pouco ovalado (um dos motivos pelo qual os bebês não enxergam bem nos primeiros meses). Até 12 meses, essa diferença anatômica é eliminada e a tendência é o olho tornar-se redondo.
Do nascimento aos 16 anos, o corpo está em grande desenvolvimento e durante este período tanto a genética quanto fatores ambientais vão estar influenciando este desenvolvimento, podendo gerar ou não distúrbios de visão. A grande prevalência da miopia é pouco explicada pela genética, apenas 18% atualmente dos míopes os são por hereditariedade.
Depois de indas e vindas de estudos científicos, os pesquisadores conseguiram identificar que a quantidade de exposição de luz solar enquanto criança afeta a anatomia do olho, alongando-o ou não.
O mecanismo proposto é que a maior exposição solar aumenta a dopamina no corpo que mantem o olho no formato redondo e a menor exposição solar aumenta a melatonina no corpo que gera um alongamento no olho. O balanço de dopamina e melatonina também é associado com o ciclo circadiano (sono/vigília).
Ou seja, o estilo de vida oferecido para a criança é o principal fator para evitar a miopia. Proporcione uma boa dose de atividades ao ar livre, ao invés de horas a fio jogando em telas, e estimule uma boa rotina de sono (isso significa, entre outras coisas, não usar telas logo antes de dormir).
Para saber com mais detalhes do incrível trajeto que a ciência fez pra chegar nessas conclusões, escute na íntegra o episódio #234 do podcast Naruhodo, pelo site do B9 (nele você também encontra os artigos científicos usados) ou procure no seu tocador de podcast preferido!
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