Ahhhh... a recepção da nossa primeira conexão da Rede de Afeto foi muito gostosa!! Então vamos dar continuidade a esse espaço aqui.
Um espaço de escuta, de afeto e de conexão. Um lugar pra conhecermos as histórias de diversas mães (e talvez futuramente pais) e conversarmos sobre as particularidades de cada um.
Quem topou muito generosamente participar dessa conversa de hoje foi a Katrine. Nossos caminhos foram entrelaçados pela Pryscila, que participou da nossa primeira conversa. A Katri foi babá do Heitor, quando ele era menor, e desde então uma linda amizade floriu entre elas!
Venho acompanhando a história dela de longe, e foi muito bom poder ter esse papo e conhecê-la de forma mais profunda. Ela é a mãe da Malu, essa menina linda de seis anos, espertíssima, determinada e que sempre nos surpreende com suas tiradas e percepções!
Sem mais delongas, puxa uma cadeira, relaxa e vem com a gente pra esse papo!
Katri, eu sei que você não tem uma relação conjugal com o pai da Malu. Você se considera mãe solo?
Não, o pai é presente na vida dela com suas responsabilidades. Mas poderia fazer mais se não eu não fosse tão controladora e delegasse mais.
Tenho uma parte minha muito forte de não pedir ajuda, de acumular coisas, de sempre dar um jeito… é mais fácil ir lá fazer, né? De um modo geral, ele faz a parte dele e tem também a rede de apoio que é fundamental na minha vida. Eu tenho a Pry [que é amiga e dinda da Malu], dinda Lu, as avós, a tia, e agora tem a escola também. Eu que não uso tanto quanto poderia. O bom da terapia é que ela abre um pouco a cabeça da gente para isso.
Um pouco do que eu fui buscar na terapia é das coisas que tu se vê fazendo e tu não quer repetir, tu quer quebrar o ciclo e não quer repetir com teus filhos. A falta de referência para as formas de lidar, de saber como agir com a criança. Porque a criança que eu tinha um contato próximo era minha irmã, que é três anos mais nova, mas não é a mesma mentalidade de você estar criando, né?
Então tem muita coisa que eu tenho dificuldade e aí eu vou pegando a experiência de cada um: do que eu vi, do que eu pesquisei, da terapia. Eu acho que a parte mais difícil é conciliar tudo porque hoje em dia tem bastante informação.
Por exemplo, sobre a Malu dormir comigo. Tem um diz que tem que dormir porque isso ou aquilo, outro diz que não é pra dormir. Aí eu tento seguir a intuição, pra falar a verdade. E é uma coisa que foi acontecendo de forma natural, e eu deixo a opção em aberto agora. Ela tem o espaço dela com a cama ou pode dormir comigo.
E é uma transição: agora ela quer dormir mais na cama dela do que comigo. Ela diz: "ah mãe, é ruim dormir com você, você fica me abraçando". Foi legal porque eu consegui aproveitar quando ela queria.
Não sei se você conhece, mas tem uma educadora parental, a Elisama Santos, que escreve sobre isso, sobre quebrar ciclos. Eu ainda não li, mas um dos livros dela se chama "Por que gritamos?".
Ninguém é de ferro, né?! rsrs. Eu acho que tem que chegar num ponto de evolução muito grande pra você conseguir manter sempre a tranquilidade, a voz calma, ou não perder a paciência e não gritar.
Eu fico muito realizada comigo por ter quebrado o ciclo de não bater, por exemplo. Agora tem a questão do grito para trabalhar e ir evoluindo. Eu cheguei na opinião que a gente grita quando a gente não tem um argumento. Na hora você já tá sem paciência, tá cansada, já tá com sono, a cabeça já não quer pensar, aí você grita. Uma coisa muito primitiva, que nem bater.
Não conheço esse livro, mas tenho uma amiga, Camila, que trabalha comunicação não-violenta na mediação e trouxe muitas ideias para esse meu conceito.
A Malu tá com seis anos, né? O que que você acha que é mais difícil nessa fase?
Ela é uma menina persistente, como vocês estão vendo [a Malu estava há horas dedicada a aprender a fazer crochê]. É assim pra escola também. Então tem que fazer, tem que acontecer e tem que estar perfeito. A nota tem que ser a melhor, se não, não está bom.
Tento deixar ela ter sua personalidade, sua percepção das coisas e não colocar muito em cima dela as minhas expectativas, o que eu quero.
E tem também a questão lidar com a criação que vem por parte do pai, das influências dele com relação a conversas, a músicas, que é bem diferente. Agora vai pesando mais saber que ela tem uma vida comigo e uma outra vida - uma parte da vida dela - que eu não faço parte, que eu não conheço. Não sei onde ela vai, com quem fala, como que ela reage.
A questão também das telas. Agora que ela está indo na escola o dia todo me deixa aliviada nessa parte, né? Eu sei que ela não assiste TV, ou se assiste é algum filme ou alguma coisa orientada. Em casa dificilmente ela assiste porque tem as atividades, um monte de coisa para fazer e quando ela assiste, mais no final de semana, eu sei o que ela tá assistindo.
Mas é difícil lidar com isso. Esses dias ela falou que queria um celular. Eu acho que o eletrônico não é o vilão. É preciso saber as medidas, achar um equilíbrio do que ela vai acessar, como e por quanto tempo. Porque tem por aí "receita": a partir de tal hora não pode deixar eletrônico, mas é diferente pra cada pessoa. Você tem que adaptar pra cada criança.
Quais são as coisas mais legais dela agora?
Essa mágica do aprender. Por exemplo, aprender a ler. É uma coisa que pra gente já faz um tempo, né? E pra eles é maravilhoso! São coisas normais pra gente, que fazemos todos os dias, mas quando eles fazem é inédito, é lindo! É bem emocionante... pensar que esse ser que eu geri, pari, tá aqui sabendo escrever e ler sozinha, tu fica…
E ela está numa fase que ela já entende bem, que ela é muito parceira. Sair, ou sentar juntas e assistir um filme. Ela é um topa tudo! É muito legal.
Tu tem convivido com pessoas que têm filhos da mesma idade? Tu consegue ter essa troca com amigos ou pais de coleguinhas dela?
Faz algumas semanas que a gente fez um grupo com a turminha da escola, que a gente troca algumas coisas da escola mesmo, das atividades. E eu fico feliz quando descubro que não sou só eu que não estou dando conta de fazer todas as tarefas, de estudar, porque vem bastante coisa! Fora isso, não tenho muitas pessoas conhecidas. O meu grupo de amigas, da minha idade, da escola ou da faculdade, ninguém tem filho. Não estão nessa fase. Eu até brinco e pergunto quando é que elas vão começar a ter filhos!
Então eu troco umas ideias nos aniversários da escolinha, ou com algumas colegas de trabalho e claro, qualquer mãe que dê trela em algum lugar hehe. Parece até um comparativo, mas é sempre bom quando acontece essa troca.
Acredito que seja normal ter uma troca de amigos depois de ter filhos. Alguns amigos se afastam e outros se aproximam por essa mudança de cenário. Mas também não é uma coisa mágica e instantânea, né? Imagino que deva ser solitário quando se é a primeira do grupo a ter filho.
Sim, é uma transição, né? O grupo de amigos vai mudando e até me faz filosofar sobre o que é uma amizade e sobre os tipos de amigos.
Os amigos de sair, de ir pra festa, acabam afastando porque não te cabe mais. Pelo menos por um tempo, tu esquece essa parte! Às vezes tem que relembrar! Hahahaha! Você tem que ter um momento seu, que tem que sair, tem que lembrar de exercer todos os papéis e que ser mãe é só um deles.
Então tu vai trocando os amigos e tu acha pessoas que tem filhos, mesmo de idades diferentes e vai trocando experiências.
Mas da mesma idade é mais difícil. A Malu trocou várias vezes de escola e isso acaba dificultando também. Por exemplo, teve um ano que ela estava numa escolinha e tinha uma melhor amiga. Aí a gente combinava com a mãe da criança de ir na pracinha e tal. Mas é aquela amizade que tu fica falando só dos filhos. Não é bem uma amiga, é uma amizade diferente.
Tu comentou que busca informações pela internet. Tem algum assunto ou alguma pessoa que te interesse mais ou que tu considere uma referência?
Eu tento seguir mais os profissionais: psicólogos e pediatras. Pessoas que falam sobre criação, mas que tenham uma formação, um embasamento. E também sigo algumas pessoas que são interessantes, que trazem algumas coisas novas, uma lógica ou ideias de acordo com o que eu acredito. Mas eu procuro não seguir tanto também, porque senão acaba tendo muita informação, né?
Quais são essas crenças e valores que você se preocupa com relação à criação da Malu? Tanto os aspectos que você considera importante pra sua maternidade, quanto os que você quer passar para ela?
Eu acho que o principal é a questão do afeto, de demonstrar sentimentos. É uma coisa que eu trabalho em mim. Se tá com vontade de abraçar, abraça. De falar que ama. Do cuidado. E a partir disso, a empatia e o respeito, com humildade e valorizar as pessoas que amamos e nossa natureza. Principalmente o amor e respeito próprio.
Mas eu vejo que as crianças de agora já nascem com esse botão acionado. Tu vê que são pessoas que tem um ar diferente. Eles já são mais voltados para isso, o carinho, o afeto, a preocupação com o outro.
Eu queria saber se tu tem curiosidade sobre o desenvolvimento das crianças, se você pesquisa e busca esse tipo de informação.
Ah, eu sou curiosa e ansiosa, né? Tô sempre pesquisando! Querendo ou não, tenho sempre o medo interno - se está acontecendo na normalidade, se é assim mesmo, se esse peso está correto, se a altura está dentro do esperado, se os exames estão tudo ok.
A minha psicóloga me proibiu de ficar pesquisando no Google, porque eu fico muito estressada, né? Qualquer coisa que tu pesquisa no Google pode ser desde uma alergia até 3 dias antes da morte. Por sorte eu tenho a Pry, que é um almanaque. Eu já mando foto ou a dúvida pra ela, que tem mais experiência, e ela já vai me acalmando.
Mas tenho que cuidar com a ansiedade, eu me policio pra não deixar de aproveitar. Porque quando tu vê, tu tá sempre ansiosa e não curte os momentos. Porque é muito rápido! Ela era um bebê e agora já tá assim! Meu Deus! Foi tão pouco tempo, parece que nem aproveitei o tempo com ela! É loucura imaginar que uma pessoa que nem existia ou se tinha planos a quase 7 anos e agora é o tudo.
E tem mais alguma coisa que tu quer comentar, contar da tua experiência?
Acho que pra falar de maternidade tem que ter o equilíbrio, de não ir pra um extremo e romantizar ou dizer que maternidade é uma droga. Em modo geral já existe muita pressão sobre ser mãe e opiniões de como fazer.
Cada um de nós é a melhor mãe que nossos filhos precisam! Espero que normalizem o fato que temos defeitos e qualidades.
Ah, e que não importa que nossos filhos tenham 100 anos, sempre serão nossos bebes perfeitos donos de todo nosso amor.
Agradeço a oportunidade Isa de compartilhar um pouco da minha experiência e que esse teu movimento possa trazer muito afeto e aconchego as mamães!
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Fico tão feliz que você tenha acompanhado todo o nosso papo!
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Amei a 2ª edição, Isa!