Vamos aproveitar que esse é um espaço de escuta, de afeto e de conexão; um lugar pra conhecermos as histórias de diversas mães e conversarmos sobre as particularidades de cada uma para falarmos, nessa terceira conexão, sobre um assunto que ainda é tabu na nossa sociedade.
Não são muitas pessoas que se sentem confortáveis para falar sobre o seu não desejo de maternidade. Por isso, quando a Natalia colocou esse assunto na mesa e disse que estava disposta a falar sobre isso, me senti honrada!
Eu e a Nati tivemos nossos caminhos cruzados pela biologia e trabalhamos por um tempo no mesmo laboratório de pesquisa. Apesar de, na época, não termos nos tornado muito próximas, ao conversar com ela pareceu que éramos amigas de muito tempo! O papo foi longo, exploramos muitos assuntos, mas ficaria maçante colocar integralmente aqui. Quem sabe eu faço depois uma “parte dois” com as trocas que ficaram de fora.
A Nati me contou que seu núcleo familiar é pequeno e por causa da carreira militar do seu pai, cresceu longe do resto da família (avós, tios e primos). Apesar de sua mãe adorar crianças, ela convivia muito pouco com elas e talvez por isso, a maternidade nunca foi um desejo seu.
Me conta então como foi que você chegou à maternidade. Qual era o teu contexto de vida?
A minha situação estava extremamente estável. Eu engravidei por acaso, acidente, mas foi um acidente no que eu fui total culpada. Eu simplesmente resolvi que eu já tomava anticoncepcional há 15 anos e que eu não queria mais tomar. E ao invés de me informar sobre controle de fertilidade, a louca resolveu fazer tabelinha.
Quando eu cheguei na minha ginecologista pra contar pra ela o que tinha acontecido, eu falei: “Estamos com um problema.” E ela, uma senhorinha, me respondeu: “Que problema? É a coisa mais linda do mundo!”. Eu falei que tinha sido sem querer e ela falou assim: “Tu parou de tomar anticoncepcional, né? No fundo tu queria”. Ela me jogou essa na cara.
Eu pude me dar ao luxo de arriscar, porque eu estava em um relacionamento estável, já há três anos, não fazia muito tempo, mas eu morava com o meu namorado. Ele é um baita de um pai e tem também uma ótima família. Eu sou concursada no estado desde 2009, então também estável financeiramente. Digamos que se eu quisesse planejar ter um filho, seria um ótimo momento, sabe? Fora o mestrado. Eu estava fazendo o mestrado, então se fosse planejar, eu esperaria pelo menos terminar o mestrado. Mas assim, não tinha nada... nenhum problema, sabe?
Se fosse um desejo meu, seria um momento bom.
Eu sempre enchi a boca pra dizer que eu não queria ter filho. Tanto que a minha vó dizia: “Filha, olha que Deus castiga, ele vai te mandar dois.” Mas eu sempre disse que não queria, eu nunca tive vontade. Nunca tive vontade de ter barriga, nunca sonhei em amamentar, nunca tive isso. Mas por algum motivo eu não me importei em parar com o anticoncepcional mesmo sabendo que tinha risco, sabe?
Por isso que acho que a minha ginecologista tinha um pouco de razão. Por que que eu parei? Por que eu não me informei direito sobre controle de fertilidade? Eu simplesmente deixei à sorte. Mas essa é a maior culpa que eu tenho, sabe? Eu acho que as pessoas tem que pensar nisso. É uma coisa muito séria pra tu deixar rolar. Eu deixei rolar.
Eu acho que eu não queria ser mãe. Eu acho que não era uma vontade e se eu tivesse pensado, eu não teria engravidado. Eu não sei por que eu deixei rolar, não sei se no fundo eu tinha uma vontade ou por pressão da sociedade. Pesava muito esse fator da minha mãe, a minha mãe queria muito ter um neto.
Talvez tu tivesse se sentisse meio mal porque tua mãe queria muito ser vó e de forma inconsciente questionasse essa tua certeza de não maternar, e acabou deixando pro acaso decidir.
Sim, acho que foi isso. Essa questão da família: minha família é pequena, e por exemplo o Natal já é um saco. Natal é legal quando tem criança. No Natal eu pensava sobre isso.
Mas eu ainda quero escrever um texto sobre isso, sobre “deixar rolar”. Isso não é uma coisa que se deixa rolar, sabe? Eu me culpo por não ter decidido isso. Eu arrisquei e, nossa... muito rápido deu merda. Eu estava desde abril sem tomar anticoncepcional e engravidei em dezembro.
E uma coisa que me fazia sentir muito mal, muito mal, é que eu tinha um pai pro meu filho, a minha família queria muito um neto, a família dele queria muito um neto. Eu não queria estar grávida, estava me sentindo muito mal, e eu não tinha o que culpar, entendeu? Eu não tinha uma desculpa, não engravidei de um desconhecido, por exemplo. Nada. A minha situação era extremamente favorável só que eu não queria. Eu acho que foi isso que me deixou mais culpada.
Tu falou que quer escrever sobre isso. Você tem escrito sobre a maternidade?
Na verdade, eu leio muito e eu faço terapia desde março. Bento nasceu em setembro e em março não deu mais e eu fui pra terapia. E a terapia ajuda. Mas ler me faz muito bem! Sabe aqueles livros “Mãe fora da caixa" e “60 dias de neblina”? Eu li esses livros antes, quando eu tava grávida e eu achei um saco esses livros. Mas aí, depois que o Bento nasceu, eu reli e eu chorava. Porque tu te enxerga e isso é muito bom! Tira a culpa e é um abraço.
Saber que outra pessoa passou por isso, que é normal. E várias pessoas podem escrever sobre o assunto, mas algum vai ter mais a ver contigo, chega mais em ti. E tem muito livro de maternidade, só que quanto mais livro tiver, quanto mais texto tiver, eu acho que chega em mais gente.
Pra mim é muito bom. As postagens que tu fez, eu li as duas entrevistas, e de tudo eu gosto. Porque embora os problemas que elas compartilharam não sejam coisas que me afetam diretamente, ou que eu esteja passando por isso, vai saber né?
E às vezes eu escrevo as coisas pra mim, eu tenho um diário. Mas aí eu fiquei com vontade de escrever para talvez depois compartilhar. Por isso, porque ler fez bem pra mim. Saber que é normal, que tá tudo certo e que vai passar, né?
E como que foi a experiência da gravidez? Tu falou que nunca se imaginou de barrigão e nem amamentar..
A minha gravidez foi muito boa. Eu sempre gostei de me cuidar. Antes da gravidez eu era a pessoa natureba, a pessoa que ia na feira orgânica, a pessoa que fazia a sua própria comida, fazia o seu pão, o seu bolo, fazia o meu iogurte com lactobacilos vivos. Gosto. Yoga, academia 3x por semana. Nossa, eu adoro me cuidar.
E na gravidez eu me cuidei muito mais porque quando fechou os 3 meses e eu comecei a contar pras pessoas, veio a pandemia. Então, eu passei a gravidez inteira em casa, em teletrabalho. Eu tinha muito tempo. Eu acordava, tomava meu café da manhã muito bem elaborado, restrito porque tive diabetes eu não podia comer carboidrato nem comer doce. E daí eu fiz muita meditação, fazia o yoga, a gravidez foi muito boa.
Tirando os 3 primeiros meses ali, que eu passei por aquele processo de não aceitar muito bem, de tentar esquecer o que tava acontecendo. No começo eu pensava assim: “Eu não vou me desesperar porque eu nem sei se essa gravidez vai adiante. Muita gente aborta, daqui a pouco eu aborto”. Às vezes pensando até que eu desejava que isso acontecesse. Mas de novo não seria uma escolha, entendeu? Nunca pensei em abortar. Não sou contra isso, acho que as pessoas têm direito. Mas não pensei nisso. Acho que se acontecesse, eu ia ficar arrasada, mas também pensava nessa possibilidade. Passado esses três meses, comecei a gostar e a me cuidar muito.
Eu sempre quis ter essa experiência da gestação. Mas não é a isso que se resume ter filhos, né? Não se resume à gravidez, parto e amamentação. São coisas difíceis, mas são experiências únicas. Se tu adotar, tu não vai ter essas experiências. Mas ter filhos é um troço pro resto da vida.
É sério demais pra deixar rolar e eu não refleti sobre isso. Eu acho que botei o “não” tanto na minha cabeça, que pra mim foi difícil voltar atrás e dar o braço a torcer. E pensar assim: não, quem sabe... vou pensar.
É lindo, mas é uma decisão que tu tem que tomar porque não tem mais volta. Impactou o resto da tua vida pra sempre. Talvez eu tenha todo esse discurso porque eu me arrependi de não ter pensado. E não quero dizer que eu teria decidido pelo não, mas talvez se eu tivesse decidido pelo sim, cada vez que eu tenho um perrengue, eu iria pensar: "Ah, tá difícil, mas eu queria muito isso! Vamos lá!" Quando tu quer muito uma coisa, tu aceita o que acontecer porque tu queria muito aquilo. Então agora acontece os negócios e eu fico: “Ai, eu nunca quis isso! Por que que eu to aqui!?” Pesa. Tu não ter decidido é muito pesado.
Tem um seriado que eu gostei muito, chamado Trying. Nele, um casal estava com dificuldades de engravidar e resolvem adotar uma criança. E durante esse processo de decisão deles, teve um diálogo que me marcou muito porque era como se eles já tivessem realizado as etapas da vida e que o próximo passo era ter filhos. Como se a vida não tivesse pra onde se desenrolar, sabe? E eu fico muito incomodada com isso. Eu acho que sim, pra algumas pessoas essas “etapas” da vida fazem sentido, mas não pra todo mundo. Acho que é meio pesado ter filho por essa sensação de vazio, ter filhos para ter um “desafio”.
Em um texto que escrevi, eu usei a metáfora da cestinha de compras. “Ah, tua vida vai ser vazia se tu não for mãe.” Não, tua vida é vazia se tu não colocar nada dentro da tua cestinha. Eu preciso de um desafio, ok. O que que tu gosta de fazer? Tu gosta da academia? Então tu vai pra um doutorado.
Eu entedio. Eu sou muito dinâmica. Eu não gosto de ficar acomodada, não gosto de zona de conforto. Então, tô entediada, faço uma especialização. Tô entediada, troco de cidade. Eu saí de um relacionamento de 9 anos, porque entediou. Não tava mais legal, não tava contribuindo em nada. O que mais? Tava entediada, fui pra um intercâmbio, fiquei 8 meses fora do país.
Tem um monte de coisa que tu pode fazer. Tu nunca realizou tudo. “Ah, mas eu gosto muito do que eu faço.” Então melhora, então dissemina. Tédio é uma péssima forma de escolher ser mãe.
É como se ter filhos fosse a “resposta pronta”.
Tem uma coisa que explodiu meu cérebro nos últimos meses e que tá me deixando surtada. Comecei a fazer um curso de planejamento financeiro com a Natália Arcuri. Ela faz toda uma introdução antes de chegar na parte dos investimos (que é a parte que eu quero).
Ela começa o curso falando que a gente não consegue fazer nada na vida se a gente não traçar metas. E também ela manda a gente falar sobre o que é importante para gente e as nossas características. Aí nesse teste que eu fiz, eu vi que para mim independência é muito importante, a autonomia é muito importante.
Comprar apartamento é uma coisa senso comum que ela condena. Se é importante pra ti, beleza. Mas daí ela fala assim no vídeo: “Qual é o sentido de alguém que tem como característica a independência ter um apartamento?” Isso acaba com a tua independência. Tu não vai querer se mudar porque tu tem um apartamento.
Ser mãe é a mesma coisa, sabe? Se ser mãe sempre foi teu sonho e nesse momento tu identificou que precisa de um desafio, talvez seja o momento. Agora, se eu nunca quis ser mãe e agora eu tô entediada, então eu vou fazer ser mãe? Não né! Mas aí, tô entediada. Eu posso ir fazer um doutorado ou ser mãe. O que que é mais fácil? Engravidar! Engravidar é aqui, né? Num estalar de dedos. Entrar no doutorado, é complicado pra caramba.
E pra ti, o que que foi difícil quando você engravidou? Além da falta do desejo, o que pesou? Liberdade, viagens...
Liberdade. Total. Pra mim o mais difícil hoje, e que a terapia me fez ver, é que eu ainda vivo o luto pela vida que eu perdi. Eu sou muito dinâmica e tem muita coisa que tu deixa de fazer, ou deixa por um tempo. Quem gosta muito de ser mãe e tá super bem, dá um jeito, sabe? Que nem dizem, tu não precisa deixar de fazer nada, tu vai adequando. Mas é bem difícil!
Então, foram duas coisas: liberdade e o meu mundo que meio que desabou porque eu sou uma pessoa controladora e trabalho com planejamento. Tudo na minha vida é planejadinho. E uma coisa que eu li num livro (apesar da minha psicóloga já ter me dito isso e é por isso que eu amo textos): as pessoas tem perfis, cada um tem o seu perfil psicológico. E a maternidade impacta muito mais determinados perfis.
Se tu é uma pessoa controladora e que gosta muito de planejamento, tu vai sofrer muito com a maternidade. Porque com maternidade tu perde o controle da tua vida, tu não tem o mínimo de controle sobre a criança e tu não consegue planejar as coisas. E não é nem sobre imprevistos. Por exemplo, eu combino de ir contigo na Redenção às 9 horas, daí o bebê dorme às 8h45. Ou ele tá com dor de barriga, ou ele simplesmente tá manhoso demais e tu pensa: “Eu não vou sair com essa criança pra rua”.
Então isso é uma coisa que pegou para mim. Eu sempre fui muito controladora, muito. Se eu vou viajar, eu sei exatamente para onde eu vou, sei os lugares que eu quero ir, eu sei onde eu quero comer, eu sei o que vai servir no café da manhã do hotel. Mas eu tô tentando ver que eu tô aprendendo muito. É uma forma de eu mudar, porque eu sou tão rígida que talvez se não fosse a maternidade eu ia morrer naquela rigidez. Então tem um ponto positivo também, escreve isso!
Eu penso muito sobre isso porque eu sou controladora, idealizadora e já estou prevendo que se eu for mãe, eu vou sofrer muito! Imagina só, eu que sempre quis experimentar a gestação, aí engravido e passo os 9 meses passando mal, tenho um problema, preciso ficar de repouso, sei lá. Eu tô lascada!
A gente sofre muito mais. Porque tu vai trazer todo o planejamento: tu vai querer comer super bem na gestação, vai querer fazer academia até o último dia, a criança vai nascer, tu não vai querer dar bico, tu vai tentar usar fralda ecológica, vai planejar que ela vai dormir no berço dela, tudo aquilo que tu já deve ter lido. Tu vai se frustrar pra caralho, mas com o tempo tu vai abrindo mão.
Por exemplo, eu parei de usar fralda ecológica depois de um ano do Bento, e é um negócio que me faz sofrer. Odeio coisas descartáveis. Mas não dava mais. A gente tava sobrecarregado, a gente não aguentava mais. Então à noite, ou era dobrar fralda, ou era assistir um Netflix. Quer saber? Não dá mais!
E isso tá sendo bom pra mim. Porque, como diz minha psicóloga, eu sempre busquei muito a perfeição. Tudo que eu vou fazer, tem que ser do melhor jeito. E ela me faz ver que eu posso ser mais maleável, eu posso não ser perfeita em tudo. Tudo bem se eu não consigo fazer tudo que eu quero, sabe? Eu acho que o nosso perfil sofre mais, mas talvez a gente aprenda mais também.
Se não fosse o Bento, talvez eu ia estar com 70 anos e ia ser uma pessoa insuportável, né? E assim ele vai quebrando um monte de paradigma, vai me ensinando a aceitar mais coisas. Na hora do perrengue a gente não consegue enxergar, mas tem os lados bons.
E o que tá sendo difícil com o Bento agora?
O que tá pesando mais é a questão do sono. Ele tá dormindo mal, porque tem muito dente na boca, toda hora tem um dente saindo. E ele tem muita ansiedade de separação. Com um ano ele começou a ir pra escola. A adaptação foi maravilhosa, foi muito fácil ir pra escola. Só que ele chega em casa e ele não solta minha teta por nada!
Então eu, a pessoa que estudou muito sobre a amamentação e que desejou amamentar o filho até 2 anos, não tô aguentando mais! Chega uma hora que cansa. Uma roupa dessas, ele rasga, ele puxa. Se eu não dou a teta pra ele, ele se joga no chão e grita. Isso pesa. Eu não li sobre isso. Eu não tava preparada para ele estar me demandando tanto agora. Achei que depois de um ano ele já ia estar indo com os amigos pra festa. Risos.
Quando ele era recém-nascido, ele ficava muito com o pai dele pai dele. O pai dele fazia ele dormir. Teve épocas, inclusive, que só o pai dele conseguia fazer ele dormir. A gente dividia a noite: quando ele chorava, cada vez era um que levantava. E agora ele tá com esse negócio do peito e ele não aceita o pai dele para pegar ele no meio da madrugada. Então se o Bento acordar quatro vezes na noite, sou eu que tenho que acordar as quatro vezes na noite com ele.
E vocês fizeram cama compartilhada?
Não, eu nunca gostei muito da ideia. Eu nunca quis perder minha individualidade. A minha teta já é dele, meu dia já era inteiro dele, a minha rotina... Então, a cama eu quero pra mim! Meu descanso. Sou bem egoísta. Eu tenho essa dificuldade: "Ah, tudo bem, agora somos um só". Não. Tem coisa que é minha. No começo ele dormiu no nosso quarto, no berço. Ele sempre dormiu cedo. Aí a gente não conseguia nem conversar na cama. E tinha o medo de se virar e ele acordar.
Eu acho tenso esse negócio da cama compartilhada. Ele dorme na cama quando tá doentinho. Ele não para de girar na cama. Eu conheço várias amigas que fazem e que preferem só colocar o peito pra fora do que acordar e levantar. Eu não. Eu prefiro sair do meu quarto e ir para a poltrona quatro vezes a ter que dormir a noite inteira com ele colado em mim. Eu não consigo dormir com ele sugando meu mamilo.
Ele acordou, eu levantei, fui ali, atendi, ficou no peito, botei no berço e voltei. Vou ter a minha cama por 2 horas para mim. E o Silvano também nunca fez questão ou disse que queria cama compartilhada. E hoje o que mais se fala é como a cama compartilhada é benéfica, mas tem aquele lance que a gente tem que estar bem, né?
Mas o problema é que o Bento tá com 1 ano e 5 meses. Ele tá na escola, vai faceiro, fica 8 horas por dia e não tem teta nenhuma. No que ele me enxerga, fala "mamãe" e puxa minha blusa. Eu falo: “Pô cara, olha no meu olho pelo menos, sabe? Pergunta como foi meu dia”. Risos. Eu ainda sou uma teta gigante para ele.
E tudo é teta, né? Foi ali e bateu perna, teta. Foi contrariado, queria mexer na planta e não deixei, chora e teta. E eu não sei até que idade vai! Às vezes eu tento não dar, resolver na conversa, mas ele faz um escândalo.
Não é mais comida a essas alturas, o peito é um conforto. Vai chegar o momento que ele vai ter maturidade, que ele vai acordar à noite e não vai precisar de conforto. Vai pensar: “Vou dormir de novo, tá muito cedo”. Ou que ele vai se bater e vai aceitar só o beijinho. Mas e se essa maturidade dele chegar com 4 anos?
Então isso que eu não sei, eu preciso ler sobre isso. Eu não quero desmamar ele, mas eu queria que ele mamasse de manhã e de noite, por exemplo. Ele chega da escola às 18h e ele praticamente fica das 18h às 20h só grudado no meu peito. Ele desce, brinca um pouquinho e "mamãe" e volta.
Tu leu bastante então, durante a gravidez?
Muito. Muito. Eu li muito sobre puerpério, muito sobre amamentação e muito sobre parto. Tava super preparada. E foi bom, porque deu tudo certo. Só que daí quando o Bento nasceu, eu não sabia mais nada! Eu não li mais, sobre o sono e essas outras coisas. E também não tinha mais tempo para ler.
Mas tem o lado ruim de ler, porque às vezes a leitura faz tu esperar uma coisa que não é. Por exemplo, puerpério: até o quarto mês, nossa, eu passei linda! Eu não tive baby blues, foi ótimo. Eu me preparei tanto pro puerpério, pros primeiros meses, que eu saí bem. Eu me sentia triste sim, mas eu tinha lido sobre isso. Eu sabia que isso ia acontecer e tava preparada.
Quando passou do terceiro mês, eu pensei "Uff, arrasei!", mas eu continuei me sentindo mal e aí foi que eu caí, sabe? O meu puerpério pesou muito depois do quarto mês porque eu tinha me preparado para passar por 3 meses e não por 2 anos, e nem por 5. Risos.
Ou então o negócio das birras, o tal terrible two, a partir de 2 anos. O Bento com um ano já tava fazendo birra, se jogava no chão. E eu fui pega de surpresa porque eu ia me preparar para isso ainda. O problema é que não é muito engessado!
Além de livros, tu lê textos pela internet também, né? Tem algumas referências, pessoas que te marcaram?
Eu não costumo seguir uma pessoa. Eu sempre acompanhei muito as autoras dos livros, a Rafaela Carvalho e a Thaís Vilarinho. De mãe, maternidade real, acho que eu nunca segui muito tempo nenhuma. Eu enjoo. Quando eu tava grávida, eu comecei a seguir algumas como a Stephany Brito a Giovanna Ewbank. A Giovana eu não curti seguir, ela é maravilhosa e eu nunca vi ela postar perrengue nenhum. É outra forma de vida. Mas a Stephany Brito era bem legal, ela postava vídeo chorando: “Tô cansada, meu peito tá rasgado”. Achei bem legal. Mas eu não persisto muito.
E quais são os valores que tu se preocupa em passar pro Bento?
O que eu mais tento é não passar nada pronto pra ele, nada dessas convenções, de preconceitos. Com relação a raça, com relação a sexualidade, com tudo. De não ensinar as coisas dentro das caixinhas. O que pega muito hoje é a questão de sexualidade. Eu dou coisa rosa para ele e eu quero dar uma boneca para ele. E eu não gosto quando minha mãe fala de namoradinha. Eu quero que ele se sinta acolhido no que ele for.
Com relação ao preconceito de raça, também. Eu tento afastar tudo dele, qualquer tipo de comentário, qualquer coisa. Quando eu fui visitar as escolas, me incomodava muito ver na turminha de escola particular só gente branca. Eu fiquei muito feliz porque a professora dele do berçário era negra. Ele amava aquela professora e eu acho muito importante isso. O primeiro contato dele com uma professora, a referência que ele fica fora de casa, é uma pessoa negra. Pra mim já é meio caminho andado para ele não ter preconceito com isso.
Enfim, não deixar chegar nada nele. Até a gente mesmo às vezes fala essas coisas: no linguajar, nas piadinhas prontas, essas coisas. Ele é muito pequenininho, mas eu tô querendo acostumar desde agora. E quando falam alguma coisa para ele, mesmo ele não entenda, eu já começo a mudar.
Fico tão feliz que você tenha acompanhado todo o nosso papo!
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